Caetano nos emociona em sua musicalidade quando, por meio das palavras “por seres tão inventivo e pareceres contínuo, tempo, tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos”, traz uma boa reflexão sobre o nosso tão subjetivo “TEMPO”. Para uns ele passa muito rápido, mas para outros é tão devagar!
Na Grécia antiga, o senhor do tempo se intitula “Chronos”, o dito tempo cronológico, e “Kairós” o tempo que não pode ser controlado nem medido por meio de números, como quando falamos sobre a qualidade do tempo vivido.
A linha da filosofia nos descreve “Chronos” como o senhor do tempo e da pressão das horas que o relógio comanda, tido como um carrasco controlador do tempo real, do nascimento até a morte. Trazendo para nossa reflexão, é a experiência de ser preso e limitado na quantidade dos afazeres realizados durante o dia.
Seguindo a linha filosófica, “Kairós” é o deus que não se importa com o tempo cronológico, aquele do relógio e do calendário. Diz respeito ao tempo não cronometrado, sem hora marcada, aconteça o que acontecer, das situações que nos surgem e “voilá”! Esse é aquele tempo para curtir e apreciar com fluidez e leveza.
Somos treinados a viver com pressa, sem degustar do agora e nos envolver com o achado no tempo. Vamos correndo atrás de coisas que às vezes nem nomeamos, apenas vamos. Perseguimos e não nos damos conta de nossas sensações, e acabamos não percebendo o que sentimos, mas afinal, o que significa “o sentir”!? Ah, deixa para depois! Preciso ir!
Quando deixamos de sentir “nosso sentir”, nos esquecemos da respiração, nos perdemos em nosso ter e no nosso fazer, não nos damos conta da nossa corporeidade e nem mesmo do nosso existir, abandonamos a arte que é “o ser e estar” no mundo, no nosso mundo, singular. A vida é a arte de se encontrar, nas nossas pausas, na reflexão de um dia que nos veio como uma chance de movimento interno daqueles que nos convida a bater um papo com nosso eu interior, nossa alma. Esse convite está endereçado ao humano impreciso e destoado do mundo da sociedade tão quadradinha e cheia de certo e errado, devo ou não devo, ganhar ou perder, enfim…
A eficiência, a produção, a competitividade nos levam ao “aproveitar melhor o tempo” por meio da velocidade. Onde está o amor e a emoção de amar? E o afeto, onde foi parar? O que buscamos tanto? Como estamos nos sentindo? São questões importantes e de extrema relevância nessa caminhada que é a vida.
Somos criatividade, potencialidade, energia, somos arte! E na arte se encontra o diferente, o colorido, a magia da dança dos corpos nesse bailar do viver. E seguimos com a mesma canção de Caetano: “de modo que o meu espírito ganhe um brilho definido, tempo, tempo, tempo, tempo, e eu espalhe benefícios”.