Em virtude da crise sanitária mundial (COVID-19) que vem nos assolando no sentido de sua extensão, velocidade de crescimento, impacto geral na população e nos serviços de saúde, e também por ocorrer em um contexto de acesso a muita informação em tempo bastante curto, muitos obstáculos surgem no cotidiano dos cidadãos. Além do mercado de trabalho e das incertezas na economia, a convivência e a descoberta de nós mesmos trouxeram algumas distorções e muitas mudanças no viver de cada um.
Com a pandemia, nos deparamos com a fragilidade humana, diretamente relacionada ao risco à vida, e tivemos que encarar um distanciamento social no qual não se faz inerente ao ser humano, pois somos seres de relações e não de isolamentos. A nossa “normalidade” nos pregou uma “peça”.
Estamos entrando em contato com sentimentos que até então não havíamos nos deparado. A ansiedade está aí, batendo na nossa porta a todo instante, tanto que não nos deixa mentir. As expectativas geradas nos deixam angustiados e não conseguimos encontrar maneiras de lidar com tal situação. São inúmeras as transformações no cotidiano de todos nós, atingindo tanto o físico quanto o emocional.
Um novo momento do existir humano
O que quero salientar neste texto, além de chamar para uma pausa reflexiva, é o fato de que somos seres singulares, com suas particularidades, únicos e vivemos em sociedade, na pluralidade. A Psicologia entende o ser humano como um ser de possibilidades, criativo com ajustamentos para várias situações e acontecimentos, com capacidade de discernir e controlar as suas emoções e, além de tudo, sensível e com uma força de afeto, não aquele que direciona ao entendimento de carinho, mas o ato de afetar e ser afetado. Essa é a noção de ser relacional e a angústia que estamos passando pela falta de contato e relacionamento interpessoal que está causando tantos sofrimentos emocionais.
O que estamos presenciando é um novo cenário, não apenas nas áreas da saúde ou da economia, mas em todo o contexto do existir humano. E é aí que entra a questão das potencialidades e criatividades, afinal, o contato com o novo, com o diferente sempre foi motivo de incômodo e estranheza em todas as culturas e sociedades.
Mas observamos que é no incômodo que encontramos maneiras e estratégias para superar e encarar as adversidades no caminho. É na escassez que nos deparamos com o inimaginável que há em nós, e na diferença que nos reconhecemos e nos tornamos nós mesmos em nossas forças e energias.
A importância de parar para entender e nomear nossos sentimentos
Diante disso, como uma pessoa que também está passando por dificuldades nesse atual momento e profissional da área da Psicologia, entendo que necessitamos de ajuda para encarar e continuar a vida. Por isso, reflita sobre os seus sentimentos, dê uma pausa para entendê-los e senti-los. Nomeá-los, inclusive, faz com que você se sinta mais confiante e siga para o seu autoconhecimento.
Nós, seres humanos, somos nossas próprias emoções e sentimentos, sendo que nossas reações diante de algumas situações complexas e tensas nos levam para tomadas de decisões importantes na vida profissional e emocional. Na sociedade contemporânea, o cenário é de competitividade: além de vários estímulos audiovisuais, existem as pressões psicológicas do cotidiano que sugam as energias, por isso a importância do autoconhecimento.
Quando reconhecemos e nomeamos os nossos sentimentos e emoções, passamos a fluir mais e viver levemente. Nosso humor melhora e a autoestima e a consciência de que podemos nos movimentar em prol de uma mudança e crescimento se tornam rotineiros. Olhar para dentro de nós e nos entender neste mundo como sujeito de sua própria ação e ser humano com responsabilidades faz com que as potencialidades e a criatividade venham à tona e, assim sendo, nossa forma de olhar criará estratégias e em cada momento a ressignificação será a saída para encarar os percalços do viver.
Nossas reações e nossos pensamentos não são iguais
Todos nós temos reações diferentes em situações estressantes. Como você responde à pandemia pode depender de sua formação, da sua história de vida, das suas características particulares e da comunidade onde você vive. O que um sente não é igual ao que o outro sente. O pensamento também não é o mesmo. O que podemos refletir é sobre nossas atitudes, tanto para com o próximo quanto para si mesmo.