O papel da angústia na nossa existência enquanto seres humanos

O papel da angústia na nossa existência enquanto seres humanos

  • 7 maio, 2021
  • Katia Silene

“Acha-se num dos contos de Grimm uma narrativa sobre um moço que saiu a aventurar-se pelo mundo para aprender a angustiar-se. Deixemos esse aventureiro seguir o seu caminho, sem nos preocuparmos em saber se encontrou ou não o terrível. Ao invés disso, quero afirmar que essa é uma aventura pela qual todos tem de passar: a de aprender a angustiar-se, para que não venham a perder, nem por jamais terem estado angustiados nem por afundarem na angústia; por isso, aquele que aprender a angustiar-se corretamente, aprendeu o que há de mais elevado”

(Soren Kierkegaard – O conceito de Angústia).

A existência humana dificilmente se apresenta plena e feliz, uma vez que o ser humano é marcado pelas adversidades em um mundo compartilhado repleto de sentimentos e sofrimentos nas presenças. Cada qual age superando ou não as dificuldades e obstáculos que a existência lhe impõe. E é no contato e no sentido que a vida humana se depara com a angústia.

Esse é um dos assuntos mais abordados nesses tempos, não somente no atual cenário de distanciamento social, mas desde que nos conhecemos como humanos. É a questão da angústia na qual estamos inseridos e experienciando o viver.

Através dos tempos, o homem vem se esforçando, seja por meio da ciência, seja de seu ser no mundo subjetivo, para superar os limites existentes entre o dentro e o fora, o eu interior e o mundo externo no qual fazemos parte. Podemos perceber o quanto estamos implicados no mundo quando nos deparamos com nosso cotidiano, nos acontecimentos diários.

Bate uma certa aflição quando surgem situações incomuns em nosso dia a dia: sentimos que aparecem alguns desapontamentos e ficamos confusos ao nos depararmos com o inusitado, pois nos causa incômodos. É como se tirassem o nosso apoio em algo que sempre nos protegeu. Sabe aquela sensação de “quem sou eu”, “onde estou”? Ela advém da ideia de identidade. Para nos entendermos como pessoa (ser humano), precisamos saber onde estamos (sentido de pertencimento), pois cada um é um em seu viver, em seus acontecimentos.

É na angústia que nos deparamos com a medida da experiência do sujeito enquanto humano. Uma sensação próxima de uma ansiedade parecida com o medo, mas sem causa específica e que faz parte da vida. E lembrando que a reflexão é da angústia como “saudável”, sem prejudicar o desempenho nas relações e afazeres.

 

Entendendo melhor esse sentimento

A palavra “angústia” se encontra na descrição do latim “angere” e do grego “angor”, e tem a ver com estreitamento. Afogar, sendo “angustus”, algo apertado, sem ar, sem saída, que constrange, oprime. Do ponto de vista psicológico, angústia significa a sensação de opressão interna, falta de paz, inquietude, podendo ter manifestações corporais, como aperto no peito, frio na barriga, tensão na nuca, bolo na garganta, entre outros.

A angústia surge no momento em que somos confrontados com as possibilidades da vida, sejam elas boas ou não aos olhos acostumados às sombras das verdades prontas. Há a possibilidade de até definir a experiência da angústia como aquilo que está no lugar do pensamento, como fosse um lugar onde nasce a consciência.

É uma reflexão sobre ser e estar no mundo, fazer escolhas e nos responsabilizarmos por elas. Não sabemos se essas escolhas darão certo ou errado, apenas escolhemos e seguimos a vida. Nos colocar de frente com a questão da nossa presença aqui, o que estamos experienciando e como estamos vivenciando é um bom diálogo com a angústia. Sabe aquela conversa, aquele bate-papo com você mesmo, com seu eu? Então…

A maneira como eu me relaciono comigo mesmo reflete a forma que eu relaciono com o mundo e vice-versa. A angústia nos dá tipo uma “cutucada”, sabe? Como se fosse uma chamada para o incômodo da experiência do existir e como existir. O corpo tem um poder incrível, unificando as sensações e percepções de si e do mundo. Está em constante relação consigo e com o externo. É na relação que estabeleço em minha corporeidade e o mundo que me encontro e me reconheço, um ser pertencente ao seu lugar de existência e de contato com o seu próximo e o seu existir. Eu gosto de falar que eu me encontro no outro.

O mundo é sempre compartilhado com os outros. Pense nisso! Tudo a nossa volta tem vida, estamos nessa experiência de interação e conexão com a natureza, e a humanidade está nesse envolver, nessa angústia do humano em buscar sua razão de ser e estar no mundo, uma angústia do ser quem se é em uma responsabilidade na liberdade subjetiva e, não esquecendo, da liberdade do ser em relação, afetando e sendo afetado, no movimento e na dança do amor!

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